Estímulo da produção de Literatura Periférica em meio à Juventude.

O Projeto Tenda Literária tem como objetivo transformar praças públicas em espaços culturais com oficinas e saraus voltados para a produção da Literatura Periférica nas diversas regiões da cidade de S.P. O Tenda Literária já foi contemplado com o VAI 2009 / 2010 (Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais). Em 2014 o projeto volta contemplado pelo VAI II.

sábado, 9 de janeiro de 2010

ÚLTIMAS POESIAS

Oi, povo!
Essas foram as últimas produções de nossa tenda, realizadas no dia 16 de novembro.
Ao final, segue um texto final de nosso projeto.
Abraço!





Que disfarce?
Um ser sem alma que só trabalha
Que a história apaga os erros cometidos contra ele
Um túnel tido como túnel sem luz
Agora encontra sua luz através da arte
Ele mostra a sua verdadeira face
E desmente todo este disfarce
(Anderson dos Santos Silva - Grupo Rebeliarte)


Do céu ao esgoto

Esgota a céu aberto
Passa o carro na rua acima
De bloco e cimento
A escada até o sol em cima

Da cabeça devorada
Decaptada do construtor
As mãos silenciosas
E o barulho do trator

O pássaro canto o canto
No canto da face suada
A mão que faz obra
Em frente o esgoto, face esgotada


De gotas de suor
Enchente inunda o esgoto
E o sol brilha alto
Abaixo devora o azedo gosto
(Samuel Macário - sam.macario@gmail.com)
Sou eu

Sou eu que entro no busão lotado
Sou eu que corro, corro, corro
Corro tanto pra levar espôro de patrão irritado
E prender parafusos e metais de tantos carros

Apesar de meus dias dedicados a economia nacional
Sou eu que não tenho condições de ter um quatro portas chapado
(Jefferson Santana - Jefferson_3012@yahoo.com.br)

Amor pra quem, amor escolhido
Amor bandido, preciso do amor incluído
Pra amar de coração
Um amor de perdição
(Valter - Guaianases)
Trabalho e castigo, preciso de trabalho
Pra comer o pão
Trabalho pra viver, trabalho não pra morrer
Trabalho de exploração, quero mesmo trabalho de solução
(Valter - Guaianases)
Lazer eu exijo, lazer eu preciso
Lazer e curtir a vida em harmonia com a família
(Valter - Guaianases)
É todo negro!

Meu amor é negro!
A nega não nega
Que me ama
Na cama
A nega não nega
Os seus apertos
De medo, de desejo
Ô, Nega!

Meu trampo é negro!
Escravo não sou
Sou negro liberto
Esperto
Trampo na capoeira
Na beira
Da criminalidade
Na beira
Da liberdade

Meu lazer é negro!
Tem batuque, tem candomblé
Tem mandinga
Diga, diga pra mim
Quem tem lazer?
Tem palma, tem barulho
Tem tambor, tem eu
Tem a negrada, tem você!
(Renato)
Sobrevivente

Apesar de tanta miséria, maldade e rancor
O amor resiste!
O amor renasce a cada dia
Em pequenos gestos em meio a tanta tristeza
Se torna poesia
O amor é um sobrevivente de uma guerra sem fim
(Jô - Grupo Rebeliarte - Espaço Carlos Marighella)
Amor, trabalho e lazer

São sentimentos e direitos que todo homem deveria ter
Mas como tantos outros descritos na constituição
Não são exercidos por todo cidadão
Aliás cidadão, qual a sua identidade
Qual a sua postura diante da situação de discriminação?
(Cákis)




Estrofes do Sarau

Hoje a Tenda Literária
Está bem no meu quintal
No bairro de Lajeado
Mercado Muncipal
Debatendo um poema
Noticia de um jornal

Texto de Manuel Bandeira
Escritor Maravilhoso
Falando de um personagem
Chamado João Gostoso
Um simples do povo
Morreu num local famoso

O sarau apresentado
Pela jovem Sacolinha
Um escritor de Suzano
Que é a cidade vizinha
Conduziu bem o debate
Ele não saiu da linha

E como dever de casa
Pediu pra gente fazer
Algo sobre o trabalho
O amor e o lazer
A galeria maloqueira
Cumpriu o seu dever
(Cacá Lopes - 16/11/2009)

Ai que trabalho dá ter que trabalhar
Ouvir todo dia o cara do som
Mas e a paciência quem tem?
Ai que bom seria se eu pudesse só cantar
Se a música do meu dia fosse a de um piano
Fosse o cantar de um passarinho
Fosse o cantar de um passarinho
Fosse o barulho de um cão que está dormindo
Ai que bom seria!
Mas o que apreciar
As cenas estáticas, belas e descoloridas que fazem pausar
Há o afago no fim do dia, há a condução
Há o sonho da noite, há a luz do dia
(Anônimo)
Sobre Amor
O amor sei lá...ele é gostoso
Tem saber, tem cheiro, tem uma luz que se apaga
Mas se acende quando conseguimos retomar o fôlego
Quando o frenesi tomou conta do seu corpo ter deixo relaxar
O amor sei não...mas acho que te deixa mais livre
Capaz de não se prender ao seu egoísmo, individualismo
E amar outro, outros, outras e ser mais que você e conseguir ter prazer disso.
(Anônimo)
Além de, além de, além de, além de negro, além de, além de, além de, além de pobre, além de, além de, além de, além de feio, além de, além de, além de, além de tantas vezes fudido; apaixonado por outro alguém igual. E agora?
(Fábio Pinheiro - Grupo Rebeliarte - Espaço Cultural Carlos Marighella)
Cansei de quase!

De ter um trabalho quase digno,
Um amor quase perfeito,
Uma vida quase livre,
Uma religião quase permitida,
Uma cultura quase entendida,
De ser quase branco,
De ser quase negro,
De ser quase.
Quase Zé.
(Seu Zé)
A hora da verdade

Todo dia, dia-a-dia, sol-a-sol, trabalho
A esperança na mente - brasileiro pobre
A realidade a espreita - uma visão
Revelação - quase lá
(Eduardo - Grupo Rebeliarte - Espaço Cultural Carlos Marighella)

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Ônibus, metrô, trem - chinela havaiana
Salário-mínimo, trabalho máximo
Silêncio!
(Eduardo - Grupo Rebeliarte - Espaço Cultural Carlos Marighella)

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Tudo à margem, todo mundo à margem
A espera do estopim
A espera
A cozer o momento
A fazer o momento
A digerir o manto
(Eduardo - Grupo Rebeliarte - Espaço Cultural Carlos Marighella)

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Que é o meu manto
Do que é meu e em outra mão está
Se torne nosso respirar!
(Eduardo - Grupo Rebeliarte - Espaço Cultural Carlos Marighella)
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ZL/ZS
Diversão no Grajaú
É ir no mato caçar tatu
Jogar taco na rua
Enxergar São Jorge na Lua

Diversão no Lageado
É bater perna pra tudo que é lado
Ser fomento maloqueiro
Sorrir e beber mesmo sem dinheiro

Diversão no Itaim
É pichar e depois fugir
Ir na praça conversar
Dar um rolê em Itaquá

Diversão no Valo Velho
É aproveitar o recreio
É aniversário dos irmão
É colar lá no Capão

Aonde fica sua quebrada?
Falta tudo ou não tem nada?
E como anda a construção
Desse direito chamado diversão?
Raimundo











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Ousamos sonhar
Ousamos tentar
Ousamos construir
Ousamos andar
Com nossa tenda e nossa idéia, com nosso povo e nossa poética.
Com nossa vontade de ser mais do que apenas mais um, de ser sempre o melhor possível!
Aprendemos com a tenda, com a prenda.
Aprendemos com as contas e com as broncas.
Aprendemos muito e prendemos o ar para soltar o sorriso aliviado.
Literalizamos a periferia e fomos cronicados por ela.

A todos os companheiros e companheiras que tornaram o Tenda Literária uma realidade e, 2009: Muito obrigado!!!!!!!!!!!!!!!
“A salvação é o risco sem o qual a vida não vale a pena”
Clarice Lispector

GT DE CULTURA DO IPJ

Um comentário:

  1. A atividade foi muito boa. O pessoal do Espaço tem muita vontade em realizar outra atividade em conjunto com vcs.
    Havendo interesse, estamos logo ali.

    Um abraço em nome do Rebeliarte e do Espaço Cultural Carlos Marighella.

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